sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Os Italianos e suas patrióticas festas - Gesiel Júnior



Os ITALIANOS e
suas patrióticas festas
- Imigrantes celebravam o 14 de Março em honra do rei
* Gesiel Júnior
A partir da vinda dos primeiros colonos europeus à Vila do Rio Novo em meados da década de 1880, os imigrantes da Península Itálica estiveram entre os de maior número radicados no município.
A prova da influência histórica dos “oriundi” nos primórdios de Avaré: a presença do negociante Giuseppe Magaldi, o primeiro italiano a morar no povoado nascente e a venerar o primitivo cruzeiro erguido perto do prédio onde hoje fica o Paço Municipal. Em 1867, juntamente com Maneco Dionísio e Antônio Bento Alves ele fez parte da Junta Administrativa da Capela do Major.
Mais tarde a imigração trouxe famílias italianas, cuja força de trabalho cooperou para a expansão das lavouras cafeeiras. Depois chegaram muitos outros que se estabeleceram como padeiros, carroceiros, ferreiros, sapateiros, cocheiros, moleiros, pedreiros e construtores, alguns industriais e até parteiras.
Em 1895, já organizados juridicamente, os colonos passaram a manter suas tradições e a celebrar com entusiasmo patriótico datas festivas, como era o caso do 14 de Março, dia do aniversário natalício de Sua Majestade Humberto I (1844-1900), cognominado o “Rei Bom”, integrante da Casa de Savóia.
Uma das festas memoráveis ocorreu em 1897, quando de locomotiva desembarcou, pela manhã, na estação férrea local o marquês Adolfo Boulamarchi, vice-cônsul italiano em Botucatu, convidado a prestigiar o batismo do estandarte da “Società di Mutuo Soccorso” (SMS), nome oficial da agremiação fundada pelos colonos radicados na região.
“Bonito amanheceu o 14 de Março, sol brilhante e o céu de um azul muito lavado, cor de porcelana antiga” – descreveu o “Correio do Avaré”. O mesmo jornal noticiou terem os cidadãos italianos fixado em suas casas, nesse dia, “o pavilhão valente da batalha de Solferino”, numa alusão à Segunda Guerra de Independência Italiana travada contra o Império Austríaco em 1859.
A bandeira do Reino da Itália, segundo o mesmo periódico, trazia “suas cores verdes como a mata dos Alpes, branco como as neves das geleiras, vermelho como as cerejas que enfeitam as costas do Vesúvio”.
O representante diplomático da realeza italiana mereceu jubilosa recepção no Hotel dos Lobos, onde lhe foi oferecido “lauto almoço”. Às dezesseis horas, na sede da SMS, instalada na esquina das Ruas Goiás e Piauí, em meio aos acordes da “Marcha Real” entoada pela Banda Musical Itagiba, os italianos se comoveram ao ver batizado o estandarte todo verde com a inscrição “SMS Italiana Avaré” e o bordado de um ramo de rosas.
Em seguida, abriu a sessão festiva o empresário Lucca Simonetti, dono de uma fábrica de bebidas e licores. Discursando em nome do presidente da Sociedade Italiana, Felix Bianchi, ele louvou a presença do coronel Eduardo Lopes de Oliveira, ex-chefe do Conselho de Intendência, o qual serviu de padrinho do estandarte da SMS. Saudou também o juiz de Direito da Comarca, Pacífico Gomes de Oliveira Lima, outras autoridades e representantes da imprensa regional.
O vice-cônsul, por sua vez, louvou o patriotismo do festejo, historiou as conquistas da Casa de Savóia e agradeceu aos brasileiros de Avaré – “em nome de Umberto Primo” - pela hospitalidade e acolhida aos seus patrícios. Já o barbeiro Henrique Orsini, em seu pronunciamento, previu: “Dessa agradável festa guardaremos duradoura lembrança”.
Música, teatro e civismo – No ano seguinte, 1898, o aniversário do rei foi celebrado “com grande pompa e entusiasmo”. Nessa ocasião houve a inauguração oficial da Banda de Música “14 de Março”, chamada de Banda Italiana, cujo regente era o músico Antônio Becari. Dissolvida nos meses seguintes, a corporação reorganizou-se em 1901, desta vez com o nome de Banda Giuseppe Verdi, sob a regência do maestro Primo Carniti.
Além da música os italianos apreciavam as artes cênicas e fundaram o Grupo Dramático “Gabriele Danunzio”, que encenou algumas peças em Avaré e nas cidades vizinhas.
Outra data lembrada festivamente pela italianada era o 20 de Setembro, data em que, no ano de 1870, as divisões do exército do rei Victor Emanuel II entraram em Roma, tomaram o Palácio do Quirinal e declararam a Cidade Eterna capital do Reino da Itália, pondo fim aos Estados Pontifícios.
No início do século XX, os membros da colônia italiana e seus descendentes entrelaçavam-se com os avareenses, os quais, desde então passaram a mesclar seus sobrenomes com tantos outros, dentre os quais os das famílias Avalone, Bacaroli, Baldassari, Batelli, Becari, Becca, Bertini, Bertolaccini, Bertozi, Bianchi, Bocci, Boggi, Bolciveri, Bomfanti, Bongiovani, Bonugli, Boscarini, Brandi, Carlini, Carniti, Carrozza, Carsano, Chelotti, Conforti, Contrucci, Cortese, Cossolari, Croci, Della Valle, De Nigris, De Santi, Di Munno, Di Virgilio, Donatelli, Dulci, Durço, Fazini, Filonzi, Fiori, Florenzano, Fontainha, Fragetti, Grassi, Grillo, Grossi, Guazzelli, Lali, Lanzeloti, Lazarini, Lemetti, Lozasso, Lutti, Mafei, Magaldi, Magiori, Marino, Mariutti, Mazini, Mercadante, Milanezi, Miloni, Mingoni, Montano, Montebugnoli, Monzo, Mugnaini, Nannini, Nobatelli, Noturni, Orsini, Padredi, Pagni, Pansardi, Paschoal, Pastini, Pecci, Pedrazza, Pelegrini, Petri, Petrolini, Pimazoni, Pinoti, Pistoragi, Poli, Rafanelli, Righi, Rossi, Rossini, Scalzo, Scarlatto, Schiavo, Serzedello, Simonetti, Simonini, Stargi, Tartaliogni, Tenori, Tezza, Tinari, Tortorelli, Toschi, Varoli, Vendrametto, Vendramini, Verpa e Zamboni.
_____________________________________________________
* Do livro 'Avaré em memória viva', vol. III,
de Gesiel Junior, Editora Gril, 2012